quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Amargurado




Tomo de um só gole
o amargor do tédio
cujo único remédio
é sonhar acordado
e lançar-me de encontro a
fantasia real
de uma noite alucinante
que entorpece e anuvia,
a realidade sufocante.
Grito bem alto
aos quatro cantos
que meus demônios estão soltos
juntos a tantos outros
alimento-os com luxúria e volúpia
para que retornem a mim
calmos e saciados.
Mas, fantasia vicia.
e mais uma vez ao cair da noite
sinto-me açoitado pelo tédio
saio em disparada
como um lobo faminto
e novamente me encontro
na ilusão dos sentidos
alimentando meus demônios
até que o vício me devore
e que de uma vez por todas
eu faça do inferno a minha morada.

Vaidade


Sonho que sou um Poeta eleito,
Aquele que diz tudo e tudo sabe,
Que tem a inspiração pura e perfeita,
Que reúne num verso a imensidade !


Sonho que um verso meu tem claridade
Para encher todo o mundo ! E que deleita
Mesmo aqueles que morrem de saudade !
Mesmo os de alma profunda e insatisfeita !


Sonho que sou Alguém cá neste mundo ...
Aquele de saber vasto e profundo,
Aos pés de quem a Terra anda curvada !


E quando mais no céu eu vou sonhando,
E quando mais no alto ando voando,
Acordo do meu sonho ... E não sou nada! ...

Um beijo minha querida....



Ofertei uma flor
Mas a flor, não era…

Não ofertei apenas a flor
Ofereci uma primavera
E todo o seu esplendor

Quem a recebeu
Gostou,
Adorou
Não compreendeu

Apenas a cheirou
E agradeceu
De imediato esqueceu
O que a flor simbolizou
No coração que a ofertou

Apesar da mágoa
Continuo a oferecer
A cada dia que passa...
Outra flor vou colher

Pode ser que um dia
Essa alma devassa
Possa compreender…
A generosidade
Que me trespassa
Não é para agradecer

É apenas amor
Por reconhecer

Valerá a pena?
Pergunto-me amiúde...
Aqueles olhos
Algum dia, me verão
Diferentes de hoje
Simples amigo, irmão
Numa terna solicitude?

Algum dia poderei ser dono
daquele sorriso que tanto
quis beijar?

Que pena...
Chora-me o coração
Até quando...
Ficarei nesta inquietude?

Martírio

Beijar-te a fronte linda:
Beijar-te o aspecto altivo:
Beijar-te a tez morena:
Beijar-te o rir lascivo:


Beijar-te o ar que aspiras:
Beijar-te o pó que pisas:
Beijar-te a voz que soltas:
Beijar-te a luz que visas:

Sentir teus modos frios:
Sentir tua apatia:
Sentir até repúdio:
Sentir essa ironia:

Sentir que me resguardas:
Sentir que me arreceias:
Sentir que me repugnas:
Sentir que até me odeias:

Eis a descrença e a crença,
Eis o abismo e a flor,
Eis o amor e o ódio,
Eis o prazer e a dor!

Eis o estertor da morte,
Eis o martírio eterno,
Eis o ranger de dentes,
Eis o penar do inferno!

Plenilúnio


Desmaia o plenilúnio. A gaze pálida
Que lhe serve de alvíssimo sudário
Respira essências raras, toda a cálida
Mística essência desse alampadário.

E a lua é como um pálido sacrário,
Onde as almas das virgens em crisálida
De seios alvos e de fronte pálida,
Derramam a urna dum perfume vario.

Voga a lua na etérea imensidade!
Ela, eterna noctàmbula do Amor,
Eu, noctâmbulo da Dor e da Saudade.

Ah! Como a branca e merencória lua,
Também envolta num sudário - a Dor,
Minh'alma triste pelos céus flutua!

Meu pesar

Em meio das armadilhas e depressões da vida
aprendemos a valorizar o que antes não soubemos amar
a capacidade de enxergar chega ao tardar
meu coração se pôs a chorar
e com minha dor me pus a pensar
o que fazer pra tudo melhorar?
No meio das tentativas
a única conclusão que cheguei
foi que devemos nos preparar sempre
para sermos magoados pelas pessoas
que mais amamos...

Suma despedida

Suma despedida
UM PAI,
UM IRMÃO QUE SE VAI...
É UM REINO QUE CAI
E NÃO POUPA NINGUÉM.

O RISO,
POR MAIS QUE CONCISO,
SE FAZ TÃO PRECISO
E NÃO MAIS NOS VEM.

A SUMA DESPEDIDA
CALA TUDO,
TODO DIA,
NOS ESPANCA DE SAUDADES,
MINA NOSSA VALENTIA.

O TEMPO QUE NOS RESTA
PESA HOJE
AINDA MAIS,
PRENUNCIA MUITA LUTA,
OUTRAS PERDAS,
POUCA PAZ.

(OH, PAI
QUE NUNCA SE RENDEU,
IRMÃO
QUE SEMPRE SE SAFOU,
HÁ MAIS TRISTEZA
POR AQUI
QUE QUALQUER UM...
DE NÓS
CHOROU)