terça-feira, 16 de agosto de 2011

Solidão Viciante

A solidão, dizem, é uma tristeza, um desamparo, um pedaço que falta. Em alguns caso, é um vício. Não como o vício em cocaína ou álcool. Está mais para o vício em cigarro. Você sabe que deveria parar, que talvez, quem sabe, no futuro isso pode ser prejudicial. No momento, porém, é tão prazeroso que você não quer parar. Até poderia, conseguiria, mas não quer.
Claro, todos os vícios trazem efeitos colaterais.
Você se torna dependente. Agarra-se àquilo como a uma tábua de salvação. A mera perspectiva de ficar sem o objeto do vício traz angústia. O fumante não precisa estar 24 horas por dia com um cigarro na boca; mas precisa tê-lo por perto, ao alcance da mão. O adicto em solição pode sair com amigos, ter uma turma, festejar, badalar. Só precisa saber-se só.
É necessário que chegue numa casa silenciosa, abra a geladeira sabendo o que há dentro, aviste a cama exatamente como a deixou. É preciso que o chinelo esteja no meio da sala, a roupa do dia anterior espalhada no sofá, o computador desligado, a louça na pia. É absolutamente imprescindível que cada coisa esteja como ele deixou antes de sair.
Mais fundamental ainda é que seu coração esteja como sempre esteve: desocupado. Não vazio, não. Apenas desocupado. Como um apartamento mobiliado, desses que são alugados por temporada mas nunca se tornam um lar.
Eventualmente, algum inquilino deseja prolongar a estada. Outro faz uma proposta de compra. O solitário não aceita. Sabe que dará um jeito de despejar o inquilino, ou cancelará o contrato de compra e venda no último minuto.
Um dos efeitos colaterais do vício em solidão é a eventual melancolia. De tempos em tempos, ela aflora e o solitário quer virar plural. Mas passa logo.
Volta e meia, o solitário é cobrado por quem absolutamente não entende o vício. "Mas você não quer casar? Ter família? Filhos?". É como perguntar ao fumante: "mas você não quer viver mais?"
O vício é tão bom…

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